Considerada como uma das favoritas do Carnaval 2024, a Viradouro confirmou as expectativas e se credenciou à conquista do título com um desfile impecável já na manhã desta terça-feira (13), no segundo dia de apresentações do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Com um enredo sobre o culto ao vodum serpente, a escola de Niterói cruzou a Marquês de Sapucaí sem erros aparentes, em um ano de muitos desfiles com problemas em vários quesitos. Desde a comissão de frente impactante, em que um cobra gigante rastejava pela chão do sambódromo, passando pelo conjunto alegórico e fantasias de inegável bom gosto plástico, até a evolução tranquila.
Outro destaque do desfile foi a bateria do mestre Ciça, que, com um naipe de atabaques – pertinente com o enredo religioso -, entregou uma das melhores apresentações do ano, levantando o público na avenida.
O enredo, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, com pesquisa do enredista João Gustavo Melo, teve realização clara, dada a farta riqueza de signos do universo do candomblé jeje. Zanon começou na Costa da Mina, na África, e terminou na Bahia, com sincretismos e protagonismo das mulheres – as matriarcas.
Ê, cigana
Ainda no campo de figuras femininas, a atual campeã Imperatriz mostrou força para a busca pelo bi com o enredo sobre o testamento da cigana esmeralda. O carnavalesco Leandro Vieira mostrou o bom gosto e originalidade de sempre para mergulhar no universo cigano.
No campo musical, mais um show da bateria do mestre Lolo, que inseriu uma paradinha com palmas – um recurso tão contagiante que fez o público do Sambódromo levantar e cantar o samba após a maratona de cinco desfiles.
O cantor Pitty de Menezes fincou de vez os pés no Grupo Especial, provando que a aposta da diretoria gresilense foi certeira.
Onça de Caxias
No entanto, para conseguir o bi, a escola de Ramos precisa superar também um feroz concorrente: a Grande Rio e o enredo inspirado no livro “Meu destino é ser onça”, de Alberto Mussa. Em um dos mais originais desfiles com temática indígena da história do Carnaval, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad provaram por que estão na vanguarda artística dos desfiles.
O desfile do último domingo, sobre o mito tupinambá da criação do mundo, que tem a onça como protagonista, pode ser de difícil compreensão integral, muito por causa da densidade do enredo. O visual, porém, já credencia a escola de Duque de Caxias ao título, que seria o segundo da história da agremiação, fundada no fim dos anos 1980.
E com um símbolo tão marcante como o da onça, os carnavalescos desenvolveram o que talvez seja o desfile de maior beleza visual do ano – tudo muito diferente do trivial, mas sempre pertinente.
O destaque maior foi a comissão de frente, que contou com uma onça gigante que ameaçava avançar em direção ao público. A apresentação contou com o recurso da iluminação preparada exclusivamente para o ato, e com a participação do público, que “virou estrela” ao ter as pulseiras – do mesmo modelo usando nos shows do grupo Coldplay – acesas simultaneamente. Uma aula de como usar o recurso não da luz, mas da ausência de luz, como definiu o jornalista Vinícius Donola, comentarista da Band News FM.
Se Viradouro, Imperatriz e Grande Rio estão entre as favoritas, a briga pelo G6 promete ser mais acirrada.
Portela voltou
Mesmo com problemas de alegoria e evolução, a Portela desfilou renovada após o “desastre”, segundo as palavras do presidente da escola, Fábio Pavão, de 2023, justamente o ano do centenário. A dupla de carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga desenvolveram um enredo baseado no livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. A obra, considerada uma das mais importante da literatura brasileira no século, foi inspirada na vida de Luiza Mahin, conhecida principalmente pela atuação na Revolta dos Malês.
No enredo da Portela, os carnavalescos Gonzaga partem da obra para traçar uma nova perspectiva, “refazendo os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luiza Mahin. Essa poderia ser a história da mãe de qualquer um de nós, ou melhor dizendo, é a história das negras mães de todos nós”, divulgou a escola na época do lançamento do enredo, que trata da relação.
O samba, de letra sensível, embalou um desfile que teve uma das mais bonitas águias da centenária trajetória da escola. Para devolver o orgulho ao portelense, nada melhor que uma bela águia. E a de 2024 já entra para a história pela originalidade, em uma estética que remeteu ao cultuado “Kizomba”, desfile campeão da Vila Isabel de 1988.
“Velha companheira” da Portela, a Mangueira fez uma homenagem à cantora passeou pelo Maranhão, terra natal da Marrom, e suas principais músicas, num enredo de fácil leitura e conexão instantânea com o público. À frente da escola, a “parça” Maria Bethânia, enredo campeão na Manga de 2016, abriu o desfile em um “pede-passagem”. Mais Mangueira, impossível. Mas problemas de evolução e alegoria devem tirar a escola da briga pelo título.
Vila Isabel, que reeditou “Gbala”, de 1993, Beija-Flor, com o desfile sobre Ras Gonguila, Salgueiro, com o povo yanomami, e a renovada e brincalhona Mocidade, com seu caju, brigam por uma vaga no G6 – o Sábado das Campeãs.
Com desfiles irregulares, ainda que com bons momentos, Porto da Pedra, Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti parecem longe da disputa por um lugar no top 6.
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