A decisão do prefeito Marcelo Crivella, de cortar 50% da verba destinada às escolas de samba, causou surpresa. Muito porque, no ano passado, a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) e parte das agremiações apoiaram o então candidato do PRB à prefeitura do Rio de Janeiro. Este, por sua vez, garantiu que estava do lado das escolas.
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Agora, já há quem, na comunidade do samba, se sinta arrependido por fazer campanha para Crivella. É o caso do presidente da São Clemente, Renato Almeida Gomes. Em post publicado no Facebook, Renatinho, como é conhecido, critica o prefeito e pede desculpas.
“Como presidente, votei no Crivella e aprendi que sempre confiar em palavra de homem, se errei peço desculpa aos clementianos que também pedi os votos”, escreveu o dirigente.
A São Clemente é uma das escolas que mais sentiria o baque do corte. A agremiação de Botafogo não figura entre as gigantes do Carnaval do Rio e não demonstra o mesmo potencial de geração de recursos como o Salgueiro, por exemplo. Além disso, costuma sofrer com os chamados “julgamentos de bandeira”, quando uma escola é julgada não pelo o que apresenta na avenida, mas pelo peso do pavilhão.
Pega no ganzê
O apoio a Crivella pelas escolas foi oficializado em um encontro no dia 14 de outubro de 2016, durante o segundo turno. Na época, o rival de Crivella era Marcelo Freixo, do Psol, sobre quem pesava a desconfiança, pelo menos de parte da comunidade do samba, de que enfraqueceria os desfiles das escolas. A disputa foi marcada por muita boataria.
Na ocasião do encontro, entre elogios mútuos, Crivella e dirigentes posaram para foto com as mãos espalmadas, fazendo o número 10, do PRB, e o candidato chegou a cantar “Festa para um rei negro”, do Salgueiro de 1971 (“ô lê lê, ô lá lá, pega no ganzê, pega no ganzá”).
Entenda o caso
Crivella anunciou que pretende cortar em 50% a verba destinada às escolas de samba para investir em creches. O valor em 2017 foi de R$ 24 milhões, sendo R$ 2 milhões para cada agremiação. Como em 2018 serão 13 escolas no Grupo Especial, a expectativa era que o montante chegasse a R$ 26 milhões. Mas, conforme a Riotur (Empresa Municipal de Turismo do Rio de Janeiro), responsável por organizar a festa, já confirmou, o valor ficará mesmo em R$ 13 milhões.
A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) anunciou que, sem os R$ 13 milhões, os desfiles ficam inviáveis em 2018, e decidiu suspender as apresentações até que as partes cheguem a um acordo. A entidade espera conseguir um encontro com o prefeito, algo que vem tentando há meses, sem sucesso.
Na última sexta-feira, a Riotur disse, em nota, que o Carnaval está garantido e afirmou que vai buscar na iniciativa provada os recursos para as escolas. Mas confirma que as creches são prioridade.
Em resposta, sambistas realizaram um protesto no sábado. O grupo se concentrou em frente ao edifício administrativo da prefeitura, na Cidade Nova, e caminhou até a Marquês de Sapucaí.
O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, se prontificou a ajudar e ofereceu levar os desfiles para a cidade da Baixada Fluminense. “A festa traz receita, movimenta a economia. Tem dinheiro para tudo. Se puder levar a Sapucaí para Caxias, eu banco. Vai dar lucro, traz turistas, é importante para a cidade”, disse Reis ao jornal Extra.
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