Samba da Mangueira é cantado em sessão solene dedicada a Marielle Franco na Câmara

O samba da Mangueira de 2019 segue percorrendo caminhos fora do mundo do Carnaval. Na última segunda-feira, 18, em sessão solene na Câmara dos Deputados, em Brasília, em homenagem a Marielle Franco, a obra foi entoada pela cantora Marina Íris.

Assista:

Assassinada em uma emboscada em 14 de março de 2018, junto do motorista Anderson Gomes, Marielle é citada no samba da Mangueira no trecho “Brasil chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês”. A escola, campeã do Carnaval em 2019, homenageou a vereadora no desfile, com a presença da viúva da parlamentar, Mônica Benício, e uma bandeira com o rosto da vereadora.

O carnavalesco Leandro Vieira exaltou Marina em post no Facebook (leia o texto completo ao fim da página:

Marina Íris foi a voz que mais me emocionou ao longo do ano que antecedeu o carnaval de 2019. Marina Íris foi a voz feminina que mais me inspirou a fazer o desfile que apresentei. Sua voz foi a “voz persona” do carnaval que primeiro nasceu na minha cabeça. A voz da Marina foi a voz que ecoou na minha cabeça ao longo de meses e meses. Seu timbre, sua divisão, sua dicção ditaram quase que em redação aquilo que só os meus olhos viam, e que os outros só veriam no dia do desfile do carnaval que chegaria depois. Sua voz no samba da Mangueira de 2019 me levou a buscar seus vídeos. Seus vídeos me levaram a ouvir seus discos e, a partir disso, sua voz passou a embalar minhas dores, meus amores, meu carnaval, meu barracão, meus dias, meu carro, meus sambas de rua e tudo mais que fosse alegre ou triste.

Na última quinta, parlamentares da Câmara usaram reproduções das bandeiras do desfile em ato em homenagem a Marielle.

Homenagem a Marielle promovida por deputados em Brasília usou a mesma arte utilizada pela Mangueira – Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Leia o texto de Leandro Vieira sobre Marina Íris na íntegra:

Marina Íris foi a voz que mais me emocionou ao longo do ano que antecedeu o carnaval de 2019. Marina Íris foi a voz feminina que mais me inspirou a fazer o desfile que apresentei. Sua voz foi a “voz persona” do carnaval que primeiro nasceu na minha cabeça. A voz da Marina foi a voz que ecoou na minha cabeça ao longo de meses e meses. Seu timbre, sua divisão, sua dicção ditaram quase que em redação aquilo que só os meus olhos viam, e que os outros só veriam no dia do desfile do carnaval que chegaria depois. Sua voz no samba da Mangueira de 2019 me levou a buscar seus vídeos. Seus vídeos me levaram a ouvir seus discos e, a partir disso, sua voz passou a embalar minhas dores, meus amores, meu carnaval, meu barracão, meus dias, meu carro, meus sambas de rua e tudo mais que fosse alegre ou triste.

Conheci a Marina e não quero largar mais dela. É minha crush definitiva. Minha “canário crush” como a chamo na intimidade!

Eu a queria no desfile da Mangueira! Linda! Preta! Com sua cabeleira Black! De Pochete! Vestindo o branco que sempre lhe cai bem! Me perdoem os demais, mas Marina é uma voz importante pra mim! Ela nem sabe o quanto, mas eu sei exatamente o tanto. Sua energia emotiva era importante pra mim no desfile. Olhar a massa que desfilava e saber que ela estava no meio daquilo era importante.

Ela não queria. Dizia querer assistir, da arquibancada, aquele instante no qual a Mangueira e o meu trabalho passariam diante dela. Assim foi até poucos dias antes. Foi assim até ela saber que carregaria uma bandeira. A “nossa bandeira!” E assim foi feito!

Marina era uma das vinte pessoas encarregadas de levantar uma bandeira “viva!” Bandeira de vida, de sangue e de orgulho. Essa bandeira ficou na memória do desfile campeão da Mangueira. Mas ficou também na sua voz. Voz que é bandeira! “Voz-bandeira!” “Vossa bandeira!” “Nossa bandeira!”

Hoje ela hasteou sua “bandeira” na Câmara, em Brasília. Na sua “bandeira” estava o samba da Mangueira “à capela.” O certo é que NADA, nem NINGUÉM, falta na “voz bandeira” de Marina Íris. Em sua dicção está o Brasil. Mora no som que suas cordas vocais emitem os “pretos e as pretas”. Os “manos e as manas”. “O asfalto e a favela”. A “dor e o carnaval”. O “bonito e o feio”. Em sua voz mora um grito “de mulher”, “de índio”, de “criança”. Sua “voz solo” é um “canto de coral”. Em sua voz potente habita a voz de tantos. Em algum lugar de sua garganta está cravado feito uma jóia um pedaço do Brasil que ainda será descoberto, e a cura do Brasil passa pela descoberta da voz da Marina. Nela, na sua voz, está o que precisa ser ouvido para que possamos nos redimir.

Sua voz é isso “canário crush!” Uma bandeira alta. Bem pertinho das divinas coisas do céu, porém, sem jamais se distanciar dessa gente terrena feita de carne, osso e Brasil.

É um privilégio lhe ouvir cantar.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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