A quatro dias dos desfiles no Sambódromo, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, tenta, pelo menos no discurso, se reaproximar do samba. Isso após quase um ano de brigas e troca de farpas pela imprensa, por causa do corte de verba para as escolas. Nesta terça-feira, no anúncio dos números da operação da administração municipal para os dias de folia, Crivella distribuiu declarações que pouco ou nada lembram o clima pouco amistoso dos últimos meses.
“O interesse de todos nós é uníssono, inequívoco: queremos um Carnaval bonito, alegre, esplendoroso, que represente a capacidade do carioca de ressurgir da crise, erguer a cabeça e enxugar as lágrimas. O Carnaval é o momento em que o Rio mostra ao mundo que não desistimos. Nós, cariocas, ressurgimos das nossas tristezas, pesadelos, frustrações”, discursou o prefeito.
A redução da subvenção municipal para as escolas do Grupo Especial, de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão, rendeu a Crivella a condição de persona non grata no universo do samba. Ao ponto de ser uma das motivações do enredo da Mangueira para 2018 (“Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”), desenvolvido pelo combativo carnavalesco Leandro Vieira. Este, inclusive, não faz cerimônia em entrevistas para criticar o prefeito.
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Crivella justificou o corte de recursos pela crise nas finanças da Prefeitura. Na ocasião, o prefeito alegou que usaria o dinheiro para aumentar as diárias das creches conveniadas.
“É verdade que num ano de crise precisamos diminuir os recursos das escolas, mas procuramos arduamente na iniciativa privada. O carnaval será ainda mais bonito, por vocação, pela natureza, pela capacidade criativa do nosso povo. A festa vai ser feliz, engraçada, de paz”, num tom mais conciliador.
“Não sou sambista”
Crivella reafirmou que vai ao Sambódromo nos desfiles, mesmo sem confirmar a data – nem se vai entregar as chaves da cidade ao Rei Momo, ritual sagrado da folia carioca. Mas, numa aparente tentativa de evitar associação de sua imagem ao universo do samba – ou até num contraponto ao “sambista” Eduardo Paes, seu antecessor, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, faz questão de alertar que estará na Marquês de Sapucaí em missão fiscalizadora.
“Qual o papel que um prefeito, aos 60 anos de idade, pode ter para abrilhantar a festa? Não sou compositor, não sou sambista, não sou passista. Quem dera minha ida aumentasse o público em 50 mil paulistas, 30 mil mineiros, argentinos”, declarou.
Até o Carnaval, porém, é possível que Crivella repense os planos. Isso porque, no último domingo, mesmo sem estar presente, o prefeito foi alvo de gritos de “Fora, Crivella!”, entoados pelo público do Sambódromo antes dos ensaios técnico de Portela e Mocidade.
(Com Estadão Conteúdo)
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