Marcus Ferreira tem a idade do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, inaugurado em 1984. Já Tarcísio Zanon era um menino de 10 anos em 1997, quando a Viradouro ganhou seu primeiro título do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Título esse que era, até esta quarta-feira, 26, o único da escola de Niterói, agora bicampeã com a participação da dupla – casal também – de carnavalescos.
Vitoriosos em 2020, os dois não iniciaram a temporada entre os mais valorizados no vai-e-vem dos carnavalescos. Tarcísio dividiria o barracão com a experiente Rosa Magalhães na Estácio de Sá, onde ele havia sido campeão na Série A pouco antes. Mas o destino do artista começou a mudar em São Paulo, e sem sua participação.
A Gaviões da Fiel anunciou Paulo Barros, contratação-bomba para o Carnaval paulista. Em Niterói, a Viradouro não gostou, e demitiu o carnavalesco, abrindo caminho para a chegada de Tarcísio e Marcus – este pouco depois de ser anunciado no Império da Tijuca, da Série A.
Deu certo. O que parecia uma perda irreparável – a saída de Barros, quatro vezes campeão, um dos mais badalados nomes do Carnaval – mostrou ser uma aposta certeira – e alta.
Tarcísio fez somente seu segundo desfile no Grupo Especial – a primeira experiência foi em 2016, na Estácio, mas dividindo o trabalho com Chico Spinoza. Já Marcus realizou sua primeira aparição do primeiro grupo – e poderia ter sido a segunda, se não fosse demitido do Império Serrano em 2017 após conquistar a Série A.
Boraddad
Quem também estreou em grande estilo foi a dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A dupla foi contratada pela Grande Rio, que demitiu os experientes Renato e Márcia Lage, após dois elogiados desfiles na Série A, com a Cubango.
Bora, 33 anos, e Haddad, 31, chegaram à escola de Duque de Caxias cacifados por elogios de crítica e público, mas também cercados de incertezas sobre adaptação da dupla em uma agremiação marcada por anos de enredos de relevância discutível.
De cara, emplacaram um enredo sobre Joãozinho da Goméia, o pai de santo gay conhecido como o Rei do Candomblé, figura das mais importantes de Caxias.
A diferença temática ficou patente: rendeu um grande samba e uniu ainda mais a comunidade, sem falar na superação de velhos estigmas em torno da Grande Rio, escola que coleciona haters. Veio o desfile e a exuberante estética mostrou que os dois já não são mais promessas, mas realidades, com um vice-campeonato que teria virado título não fossem os erros de evolução.
Professora
Na outra ponta, o Carnaval de 2020 derrubou dois nomes que ajudaram a criar os desfiles como são atualmente. Na Estácio de Sá, Rosa, dona de sete títulos de Grupo Especial, amargou um 12º e penúltimo lugar, rebaixada para a Série A com um desfile que esteve longe dos seus melhores trabalhos.
O duro enredo “Pedra” se mostrou de difícil carnavalização, como já era previsto, e acabou num inédito rebaixamento para a Professora. Logo ela, influência da maioria dos jovens carnavalescos, incluindo Leonardo Bora, autor de um livro sobre a artista.
Laíla
Outro gigante rebaixado é o sambista responsável por criar um estilo de desfile que preza o chão da escola. Laíla, perto dos 77 anos e dono de 17 títulos de Especial, aceitou o convite para fazer a União da Ilha cantar como nunca e, enfim, conquistar o primeiro Carnaval.
Em parte deu certo, mas um desfile desastroso, cheio de problemas de evolução, e de estética realista e pouco carnavalizada, com um enredo de crítica social rasa, jogaram a escola de volta ao acesso após 10 anos desfilando no Especial.
Laíla conseguiu fazer com que os componentes da Ilha cantassem o (criticado) samba, não chegou a ser unanimidade dentro da escola. O estilo durão, de forte cobrança e ensaios incessantes, não caiu no gosto de uma parcela de componentes pouco acostumados à rigidez vista nos tempos do diretor na Beija-Flor. Ele mesmo admitia que encontrou uma escola “assustada”.
Tanto que, na pista, a Ilha não parecia ter o “dedo” do vascaíno Laíla, para usar um termo do futebol – carros empacados, evolução vacilante e estouro de tempo. Resultado: última colocação, num rebaixamento cantado desde que o último componente da Ilha chegou à Praça da Apoteose.
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