Grande Rio anuncia enredo sobre as onças nas mitologias brasileiras no Carnaval 2024; pesquisa levou sete anos

Logo do enredo da Grande Rio de 2024

A Grande Rio anunciou nesta sexta-feira (24) o enredo da escola para o Carnaval 2024: “Nosso destino é ser onça”, sobre os mitos indígenas e simbologias do felino símbolo da fauna brasileira na cultura do país.

O enredo, criado pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, é inspirado no livro “Meu destino é ser onça”, do escrito Alberto Mussa, em que o autor “restaura” o mito tupinambá da criação do mundo. A sinopse do enredo ainda será lançada.

Segundo divulgado pela escola, os carnavalescos “propõem uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro, tocando em temas como antropofagia e encantaria”.

Ainda de acordo com a Grande Rio, o tema é fruto de sete anos de pesquisa.

“Começamos a pesquisar esse enredo em 2016. O livro de Alberto Mussa narra que a onça possui papel central na cosmovisão dos Tupinambá, dado que nos levou a pensar na importância dessa simbologia para as narrativas míticas de outras nações indígenas brasileiras e latino-americanas”, diz Haddad, em declaração divulgada pela escola.

“Assim o enredo foi sendo costurado, pegada por pegada, caminhando pelos impérios sertanejos da Pedra do Reino, pela memória de alguns carnavais incríveis, pela utilização da onça enquanto símbolo de lutas do presente, vide a produção de uma série de artistas e coletivos contemporâneos. Não é um enredo preso ao passado, fora do tempo: é uma narrativa de eterna devoração, que salta para o futuro e pensa o Brasil de hoje, terra indígena, tão complexo e diverso em sua riqueza cultural”, completa.

Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Grande Rio – Ricardo Almeida/Rio Carnaval

Segundo Bora, a dupla de artistas buscou referências em artistas como a carnavalesca Rosa Magalhães e o escritor Guimarães Rosa. E adianta que a logo de divulgação do enredo, feita em parceria com o artista Aislan Pankararu, “entrega” um pouco do que será visto na Marquês de Sapucaí.

“A arte de Aislan nos faz refletir sobre as ideias de cura, semeadura, floração, transformação. É interessante como a onça está diretamente associada a rituais xamânicos de cura, ocupando posição destacada em um sem fim de histórias, causos, mitos, narrativas de artistas tão expressivos como Rosa Magalhães e Guimarães Rosa. A gente está bebendo desse caldo, construindo um enredo que parte do mito tupinambá para visões e projeções muito contemporâneas – daí a importância do diálogo, já na arte de divulgação do enredo, com a produção de um jovem artista como Aislan Pankararu”, explica Bora.

“Mais uma vez, não é algo óbvio, mas um cartaz com diferentes técnicas artísticas, como pintura, fotografia e bordado, algo que nos encanta bastante. Fazer arte, para nós, é provocar, instigar, gerar discussão, é movimento. Foi assim com Exu e será assim novamente”, conclui o carnavalesco, citando o cultuado desfile campeão de 2022, sobre o orixá.

Aislan Pankararu

Aislan Pankararu é nascido em Petrolândia (PE). Originário do povo Pankararu, o artista é formado em Medicina.

Segundo Aislan, seu trabalho nasce “da memória de suas origens, da necessidade de entrar em contato e expressar a sua ancestralidade”, divulgou a Grande Rio.

Alberto Mussa

Obra de um especialista em sambas de enredo, salgueirense e sobrinho do compositor Didi, da União da Ilha, “Meu destino é ser onça” foi lançado em 2009 e “se trata de um experimento literário […], que, a partir da leitura crítica dos relatos de cronistas como André Thevet e Hans Staden, propôs a restauração do mito tupinambá, narrativa fantástica que explica a importância das ideias de devoração e transformação para os povos originários brasileiros”, divulgou a Grande Rio.

Para chegar ao enredo, os carnavalescos se reuniram com Mussa, em conversas “muito importantes para a expansão do nosso olhar criativo, algo em permanente processo”, diz Haddad, que antecipa o que espera da safra de sambas.

“Apostamos em um samba forte, valente, com a ‘pegada’ de que os torcedores tricolores tanto gostam. É por essa trilha que estamos seguindo”, conclui o carnavalesco.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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