Primeira polêmica do pré-Carnaval de 2019, a decisão do Império Serrano em desfilar ao som de “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, ainda suscita protestos e incertezas. Mas pelo menos um personagem envolvido nessa história prevê uma comoção coletiva na Marquês de Sapucaí, no domingo de folia.
“Acho que a gente nunca vai ouvir um samba sendo mais cantado na avenida. Vai ser uma loucura. Ver esse samba cantado na avenida vai ser muito bonito”, vibra o músico e sambista Daniel Gonzaga, filho do mestre da MPB que assina a obra, em entrevista ao Setor 1.
“’O que é o que é’ é uma unanimidade”, diz Daniel sobre o clássico absoluto da música brasileira. “Até quem é de outras escolas vai cantar, não vai conseguir ficar calado. Ainda mais do jeito que o Brasil está, com os nervos à flor da pele”, completa, citando o cenário político atual, com o acirramento entre os candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT, partido no qual Gonzaguinha militou.
Política
Daniel não arrisca dizer como seria a militância do pai se vivo fosse, mas garante: “ele não estaria com a extrema direita, com o fascismo, com certeza; ele estaria do lado do amor”. “Nisso ele faz muita falta agora”, afirma Daniel, que se tornou compositor de sambas-enredo em 2015, na Estácio de Sá, e desde então não largou mais as disputas – nem a agremiação da comunidade do São Carlos. Tanto que transformou a experiência em filme (saiba mais aqui).
Conhecedor das particularidades que envolvem o nascimento de um samba-enredo e sua execução no desfile, Daniel aprova a iniciativa imperiana, mas admite que ficou preocupado com a ala de compositores da escola – coisa muito séria na Serrinha –, que acabou sem sua principal atividade este ano.
“Eu achei o máximo (a escolha). Algumas pessoas questionam: ‘imagina se isso vira moda?’. Mas a música tem uma métrica perfeita para ser samba-enredo. Não há tantos sambas (fora do Carnaval) com essa característica. Talvez ‘Vai passar’ (do Chico Buarque). Não acho que viraria uma regra. Mas fiquei muito preocupado com a ala de compositores de lá. A resposta que me deram é que tiveram poucos sambas inscritos no último ano, que a própria ala tem suas divisões internas, e que fariam um concurso de sambas de quadra”, explica.
“O samba não é original, mas nada mais original do que usar um clássico da MPB num desfile de escolas de samba”, afirma.
“Não são bobos”
Daniel não participou da adaptação da música do pai para a versão de desfile, mais acelerada, mas aposta no sucesso da ideia, ainda que admita possíveis problemas de canto dos trechos mais rápidos do samba durante a apresentação na Sapucaí, e consequente despontuação em mais de um quesito.
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“Esses caras (do Império) não são bobos. Eles não dão ponto sem nó. Não iam chegar na avenida sem saber o que vai acontecer. Já estão com tudo cronometrado, fizeram os testes de bpm (batidas por minuto). Acho que há o desafio, mas a escola já resolveu”, garante Daniel, animado.
“’O que é o que é’ é uma obra prima, metricamente perfeita. E o uso dela no desfile do Império trará mais visibilidade para o Carnaval do Rio. É uma mensagem que a gente manda: ‘vem pra cá que a gente ainda tem muito caldo pra dar’”, declara.
Veja o clipe do samba do Império Serrano:
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