‘Não tenho a menor condição de continuar’, diz Castanheira sobre presidência da Liesa

Castanheira (de óculos) em foto de arquivo, ao lado de Crivella, após assinar o contrato com a prefeitura para o Carnaval 2018 – Foto: Paulo Araújo e Riotur

O primeiro efeito da terceira virada de mesa seguida no Carnaval do Rio se manifestou tão logo foi anunciada a salvação da Imperatriz Leopoldinense: a renúncia do presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, na noite desta segunda-feira, 3.

Castanheira, que ocupava o cargo desde 2007, apareceu com a voz embargada para falar com a imprensa depois da plenária na sede da liga. Visivelmente emocionado, o dirigente afirmou que estava deixando a entidade por não concordar com novo desrespeito ao regulamento.

“Não tenho a menor condição de continuar numa situação dessa”, declarou Castanheira.

O presidente da Liesa (ele permanece até que um novo comandante seja eleito) alegou que, por ter assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), em que a liga se comprometia a respeitar o regulamento, ele estava decidiu renunciar.

“Assinei um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público dizendo que as condutas anteriores [cancelamento do rebaixamento] não se repetiriam. Houve essa repetição, e por não concordar, estou saindo. Quem tiver que conduzir esse assunto daqui pra frente terá que levar isso em consideração”, afirmou Castanheira, em entrevista transmitida pelo site SRZD.

“Tenho compromisso com o público, com os contratos que fizemos anualmente, inclusive com a televisão, que era descer duas e subir uma”, lembrou o dirigente, citando o plano de reduzir o número de escolas para 12 até 2021.

O TAC prevê uma multa de R$ 750 mil em caso de descumprimento. Cstanheira, porém, não sabe dizer como a quantia será paga, nem por quem. E tratou de passar a bola para o sucessor.

“Quem tiver que conduzir esse assunto daqui pra frente terá que levar isso em consideração”, declarou.

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E agora?

A saída de Castanheira foi recebida com surpresa na comunidade do samba. O dirigente deve, inclusive, ser acompanhado pelos seus nove diretores. Ele anunciou que tomará as medidas para uma transição de poder, cujas condições ainda são uma incógnita.

É sabido que parte das lideranças do Carnaval não estava satisfeita com a gestão de Castanheira, sobretudo após a perda de patrocinadores nos últimos meses. Entre os insatisfeitos está pelo menos um nome de relevo: Gabriel David, jovem líder da Beija-Flor, filho de Anísio Abraão David.

Nas redes sociais, Gabriel lamentou a virada de mesa e pediu desculpas.

Ainda que a Beija-Flor tenha sido contra a quebra de regulamento agora, Gabriel já expunha abertamente suas críticas à diretoria da Liesa. Bem relacionado no jet set carioca, o jovem foi o responsável pela aproximação do empresário Roberto Medina, do Rock in Rio, ao mundo do samba. Gabriel considera a gestão da Liesa arcaica e, sempre que pode, posiciona-se a favor de uma mudança radical na comercialização dos desfiles.

Em entrevista ao Band Folia em 2018, ele defendia, por exemplo, a ativação de marcas durante as apresentações, algo que hoje é proibido por regulamento.

Dependendo de quem assuma a Liesa, ideias como essa podem prosperar. Ainda mais em tempos de penúria: além da crise financeira as escolas, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, já anunciou que não pretende dar dinheiro para as agremiações.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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