Por Amanda Martins, da Band Rio
Em meados da década de 1950, um bloco carnavalesco do subúrbio carioca “arrancava” as pessoas de casa e levava uma multidão por onde passava. Era o Bloco dos Sujos, que em 1973 se transformou na escola “Arranco do Engenho de Dentro”. Foi a primeira agremiação a desfilar na rua Marquês de Sapucaí antes mesmo da construção do Sambódromo. Durante a sua trajetória, conquistou quatro títulos: três na Série Bronze e um na Série Ouro. No ano passado, foi a vice-campeã da Série Prata.
Veja a ordem dos desfiles da Série Ouro em 2023
De volta à Serie Ouro (principal divisão de acesso do Carnaval do Rio) após 10 anos, o Arranco vai contar a história de Zé Espinguela. O sambista, pai de santo, jornalista e escritor foi o responsável por criar a primeira disputa entre escolas de samba em 1929. O desfile aconteceu aqui na rua Adolfo Bergamini, mesma rua onde está a quadra da agremiação.
Apesar de ser mangueirense, Zé Espinguela foi imparcial como juiz do concurso e deu o prêmio ao Conjunto Oswaldo Cruz, hoje a Portela, que aliás é considerada madrinha do Arranco.
Homenagear Espinguela foi uma ideia do carnavalesco Antônio Gonzaga, que estreia no posto esse ano.
“Assim que eu recebi o convite pensei que o Arranco precisava de um enredo que falasse sobre ele. Zé Espinguela é desconhecido do público de uma forma geral. Ele tinha um terreiro que era justamente aqui onde era a quadra do Arranco. Então ele é um dos pais do Carnaval carioca. Foi um pioneiro. Fundou a Mangueira e plantou nesse chão a semente do Carnaval que existe hoje. A gente brinca que o Carnaval nasceu aonde o Arranco tem suas raízes”, diz Gonzaga.
Leia também:
Beija-Flor terá ala sobre “ameaça vermelha” do comunismo no Carnaval 2023
Como uma gira de malandro deu o ‘sinal’ para carnavalesco fazer enredo sobre Zeca Pagodinho na Grande Rio
Como a Grande Rio foi de ‘Unidos do Projac’ à vanguarda do Carnaval
Voltar às raízes e se aprofundar na própria história era um desejo da comunidade, que em 2023 festeja os 50 anos de fundação.
“É uma emoção, depois de 10 anos na Intendente [Magalhães, avenida do bairro do Campinho, na zona norte, onde desfilava a Série Prata] e voltar com estrutura toda que a gente não tinha. Fazer fantasia, trazer componentes, fazer um brilhantismo… Está sendo uma missão muito grande fazer em tão pouco tempo”, afirma a presidente Tatiana Santos.
O ano é de renovação e de mudanças. Pela primeira vez, a escola vai contar com uma intérprete: Pâmela Falcão vai fazer dupla com Diego Nicolau. Juntos, vão entoar o samba do Arranco na avenida.
Na quadra, muito ensaio, samba e trabalho. E o que era protótipo, vai se transformando em fantasia.
“Tudo passa pela minha mão. Eu estou muito feliz. Meu coração quer é que [a escola] fique em sexto, quinto… É ficar na Série Ouro. Estou lutando porque foram 10 anos de sofrimento na Intendente”, declara a vice-presidente, Diná Costa.
Para continuar na Série Ouro, a Azul e Branco do Engenho de Dentro aposta na própria história e no legado deixado pelas gerações anteriores.
“A gente abre o desfile trazendo as raízes ancestrais”, conclui Gonzaga.
Adicionar comentário