Mancha Verde tenta patrocínio via Lei Rouanet; escola não recebeu dinheiro da Crefisa para o Carnaval 2023

Mancha Verde
Desfile da Mancha Verde – Liga SP

Após anos de patrocínio da Crefisa, a Mancha Verde ficou sem os recursos da financeira para o Carnaval 2023 – pelo menos até agora. A proprietária da empresa e presidente do Palmeiras, Leila Pereira, prometeu em março de 2022, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que encerraria a parceria com a escola de samba para o desfile deste ano. E, até o momento, a menos de um mês para a agremiação se apresentar no Anhembi, a Crefisa ainda não injetou dinheiro na escola via Lei Rouanet, conforme atestou o UOL.

A escola, porém, inscreveu projeto no mecanismo e obteve aprovação para captar R$ 2.483.690,40. No site Versalic, onde os projetos são publicados, não havia captações registradas até a manhã desta quinta-feira (19).

O valor, inclusive, fica consideravelmente abaixo do padrão dos últimos anos, quando a escola recebeu da Crefisa via Lei Rouanet cerca de R$ 15 milhões desde 2016. Para se ter uma ideia, para o Carnaval de 2022, a Mancha recebeu R$ 3.651.657 da financeira, única apoiadora da agremiação via mecanismo de apoio à cultura.

O apoio começou em 2016, com modestos R$ 250 mil. No ano seguinte, o valor subiu para R$ 1,3 milhão. Em 2018, o patrocínio saltou para R$ 2,3 milhões. No ano do primeiro título da Mancha, em 2019, a ajuda bateu R$ 3,4 milhões. No último desfile antes da paralisação para a pandemia, em 2020, a escola recebeu o valor recorde de R$ 3,98 milhões. Os dados são do Ministério da Cultura.

Os valores são altos inclusive se comparados aos investidos no Carnaval do Rio de Janeiro, onde os patrocínios diretos para escolas de samba se tornaram raros ou sumiram pelo menos nos últimos 10 anos.

O ritmo dos pagamentos também deixavam a escola em situação confortável. Isso em um universo onde os trabalhos do barracão avançam também de acordo com a injeção de dinheiro. No caso da Mancha, os aportes começavam meses antes do desfile.

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Entenda

O racha da Crefisa com a escola teve a ver com o assessor pessoal da dirigente, Olivério Júnior, tido como corintiano e, logo, tratado como persona non grata entre torcedores – principalmente da organizada que deu origem à agremiação.

Até a atual desavença entre as partes, Mancha e Crefisa construíram uma relação que parecia inabalável. Na mesma época, Leila ganhou espaço no clube até se tornar conselheira e, recentemente, ser eleita presidente do Verdão.

Em fevereiro de 2019, ano consagrador para a escola, a Mancha chegou a rebatizar sua quadra com os nomes de Leila e do marido, José Roberto Lamacchia.

O dinheiro permitiu, além de desfiles mais robustos e luxuosos, a contratação do carnavalesco Jorge Freitas, um dos mais exaltados profissionais do Carnaval paulista, com cinco títulos do Grupo Especial – incluindo dois na rival Gaviões da Fiel.

Na Mancha, Freitas ganhou o título de 2019 e o vice de 2020. Em 2021, porém, o carnavalesco deixou a escola antes do desfile, mas, como afirmam na comunidade do samba, com o barracão pronto.

Em meio à briga entre dirigente/empresária e torcida organizada, houve inclusive a devolução de R$ 200 mil, pagos pela Crefisa para custear a viagem de torcedores para o Mundial de Clubes, em Abu Dhabi, em fevereiro de 2022.

O presidente de honra da Mancha, Paulo Serdan, confirmou em live a conversa com Leila em janeiro ao ano passado, antes do Mundial, para reclamar da presença de Olivério, e lamentou que torcida e presidência tenham perdido o diálogo.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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