Com patrocínio da Crefisa, campeã Mancha Verde repete padrão milionário do Palmeiras

Integrantes da Mancha Verde comemoram título de 2019 com troféu – Luiz Cláudio Barbosa/Código19/Estadão Conteúdo

O primeiro título da Mancha Verde no Grupo Especial de São Paulo – uma das poucas coisas em seu devido lugar no resultado de 2019 – evidencia o poder financeiro da escola em relação às demais agremiações. Algo que o Palmeiras, clube ao qual a campeã está ligada, vem experimentando nos últimos anos. Por atrás desse poderio está a mesma patrocinadora, a generosa Crefisa, financeira de Leila Pereira e José Roberto Lamacchia.

A verba repassada pela financeira para a escola de samba via Lei Rouanet, somente para o Carnaval 2019, chegou à marca de incríveis R$ 3,4 milhões, pagos com prazo folgado, algo decisivo para os barracões. O valor não encontra precedentes no mundo do samba paulista, que vive basicamente da verba da prefeitura (pouco mais de R$ 1 milhão) e os direitos de transmissão de TV. Quem ganha além disso, sai em vantagem.

Alegoria da Mancha Verde no desfile de 2019 – Luiz Cláudio Barbosa/Código19/Estadão Conteúdo

Ainda que pareça pouco perto das cifras de três dígitos do patrocínio para o futebol, proporcionalmente os recursos se equivalem, e têm o mesmo efeito: deixam os agraciados pelo menos um nível acima dos adversários. E se no futebol o resultado de um campeonato ainda dependa de mais variáveis que num desfile, no Carnaval a diferença para as demais escolas é gritantes. Em 2019, a Mancha mudou de patamar.

Com dinheiro, e a certeza do pagamento, a Mancha pôde contratar o mais badalado carnavalesco de São Paulo, o “mago” Jorge Freitas – depois de uma tentativa frustrada de levar Paulo Barros para São Paulo -, acostumado a ser campeão, inclusive na rival corintiana Gaviões da Fiel. Em retribuição, o casal Leila e José Roberto ganhou um presente da escola, que rebatizou a quadra com nomes dos dois.

Leila Pereira, da Crefisa – Bruno Ulivieri/O Fotográfico/Estadão Conteúdo

Freitas teve acesso a um orçamento que permitiu a escola sonhar alto, com um desfile opulento, marcado por uma plástica deslumbrante. Tanto que não é exagero pensar que a beleza e a imponência das alegorias pode “contaminar” outros quesitos que nada tem a ver com o dinheiro gasto, como a harmonia e a evolução. A prova é que a Mancha teve apenas uma nota diferente de 10 – um 9,8 em Evolução, descartado. No Carnaval, essas coisas acontecem.

O desfile campeão da Mancha, por exemplo, não chegou a ter o que o povo do samba chama de melhor “chão”. O canto dos componentes, por exemplo, não foi notado como um ponto forte – longe disso. (Curiosamente, trata-se de uma escola de samba oriunda de uma torcida organizada) E o samba não ajudou. Mas a beleza da apresentação dedicada à princesa africana Aqualtune, ainda que fria, foi bela.

O Palmeiras também nem sempre joga bem, mas ainda vence porque tem os melhores jogadores, que podem decidir uma partida em um lance. No título da Mancha, a plástica de Freitas decidiu.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

18 comentários

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  • Impossível não notar a dorzinha de cotovelo do autor em cada parágrafo, mesmo que imbuído de muitas verdades. O palmeiras causa isso nos rivais e sempre irá causar, seja no futebol, no Carnaval ou qualquer outra competição em que o clube esteja ligado…

  • Bem diferente viu amigo?

    O Palmeiras hoje não é só patrocinador e está muito organizado por quase n ter dívidas ( e as poucas que tem estão sobre controle) fato que deve-se a Paulo Nobre, e a multiplicidade de rendas que vão desde de arrecadação com a Arena e sócio torcedor, maiores do Brasil, até o excelente acordo com a Tunner, e ( mas n somente) o patrocínio. Isso é tão verdade que o Palmeiras está se dando ao luxo de não fechar com a Globo os direitos de transmissão desse ano para TV aberta e payr per view. Ou seja, achar que o Palmeiras vive uma boa fase só por causa do patrocínio mostra desconhecimento enorme do que é o Palmeiras. Talvez de samba vc entenda.

  • No mundo é assim. Quem pode, pode. Quem não pode, aplaude. O Palmeiras fez por onde para ter esses patrocinios. É o time com a melhor arena do país, com o melhor programa socio-torcedor. Se a Crefisa patrocina, é porque dá retorno. Se a Crefisa renovou, é porque da lucro. Ninguem queima dinheiro…

  • Alô, jornalista. O valor encontra precedentes sim. Em 2012 a gaviões recebeu 2mi daquela empreiteira corrupta pra fazer o carnalula. E mesmo com esse aporte de propina, terminou em 9 lugar.

  • Bela matéria, deve ser flamenguista para enaltecer de forma pejorativa o patrocínio ou pura inveja mesmo, como se fosse o primeiro patrocínio em escolas de samba, pode ser um marco mesmo, o primeiro declarado, pois os demais são de traficantes do jogo do bicho etc.

    Parabéns Mancha, em 25 anos de estrada de bloco a campeã sua evolução foi limpa !!!

  • A Crefisa não é “generosa”. A Crefisa apenas paga por um serviço de exposição de suas marcas. Parem de achar que ela faz caridade pro Palmeiras e pra Mancha. Pesquisem o quanto a empresa cresceu nesses últimos anos. E só de vocês falarem de Crefisa, Leila etc. toda hora chego à conclusão de que o patrocínio pago ainda é muito baixo…

  • Por mais dinheiro que seja injetado ali, o desfile das escolas de samba de SP segue sendo ignorado pelos brasileiros. Não decola, não ‘causa’. Se vc se der ao trabalho de pesquisar os principais portais de notícia de norte a sul do Brasil verá que a mídia não escreve uma linha sequer do desfile paulista. Isto porque todos sabem que a triste constatação é que o desfile de SP é na verdade uma cópia, um plágio flagrante da Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro, cidade onde as escolas de samba foram criadas e o desfile tomou a configuração que conhecemos hoje. São Paulo nada mais fez senão copiar.

    E copiou com tanto esmero que o desfile paulista hoje já recebe mais recursos que o carioca. São cerca de R$22 milhões/ano injetados nas escolas via secretaria de cultura. Sem falar na tal ‘fábrica do samba’ na Barra Funda, obra ainda inacabada e que já consumiu recursos da ordem de R$200 milhões mas na verdade é outro plágio da Cidade do Samba no Rio. Mas a prefeitura jura de pés juntos que o ‘retorno financeiro’ vem em números ainda maiores.

    O problema porém não é a relação investimento/retorno. Dinheiro como se sabe não compra itens básicos como respeito ou reconhecimento do povo por exemplo. Qualquer brasileiro que gosta de samba é capaz de citar de cabeça três ou quatro escolas do Rio mas nenhuma de SP. Turistas do mundo inteiro aportam no Rio para conhecer ‘a maior festa do planeta’ segundo os cariocas. Nenhum vem a São Paulo. Lógico. Quem vai interessar-se pela cópia quando o original está logo ali pertinho? A cópia, até uma criança sabe que por melhor que seja não tem valor algum uma vez que jamais deixará essa condição. É falsa por definição.

    Fugindo à padronização carnaval-desfile de escolas de samba, algumas capitais do norte e nordeste criaram seus próprios carnavais fortemente ancorados na cultura local. Assim, Salvador tem os trios elétricos, Olinda tem o frevo e São Luís criou uma festa inspirada na tradição maranhense do Bumba meu Boi. Hoje, Salvador e Olinda disputam entre si o título de maior carnaval do país mas que nem de longe lembram as escolas de samba do Rio. Em Belém os desfiles tem características de Boi Bumbá onde reina a disputa entre as agremiações Garantido e Caprichoso, elementos da forte cultura local.

    O que há em São Paulo que os sambistas não conseguem desvencilhar-se do que foi estabelecido pela TV? Falta de conhecimento da nossa história? Ou terão eles algum contrato milionário para produzirem quele vexame que deixa São Paulo eternamente atrás do Rio em importância internacional e para sempre no obscurantismo cultural?

    É hora dos sambistas de SP tomarem vergonha na cara e acabar com esse espetáculo de desperdício de dinheiro público que em nada representa a cultura do samba de São Paulo. O desfile do Anhembi como está estabelecido é um triste show sem luz própria que depõe contra a cidade expondo seu povo ao ridículo, à piada, ao vexame.

    São Paulo não precisa disso. São Paulo não precisa copiar ninguém.

    São Paulo é São Paulo.

  • Lendo o seu texto que expõe a diferença financeira entre a Mancha e as outras, valorizo ainda mais o vice da Dragões. Se a Mancha teve apenas um 9,8 descartado, a Dragões teve no quesito Fantasia (talvez um dos quesitos onde o dinheiro faça realmente a diferença) duas notas 9,9, sendo uma descartada. Bastaria um desses dois jurados ter dado um 10 que a Dragões teria sido a campeã.