Os moradores da pacata Pará de Minas (MG) amanheceram perplexos no dia 3 de setembro de 2017: um dos pontos turísticos da cidade, a estátua do filho ilustre Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil, estava pichada com suásticas nazistas.
“A cidade toda ficou estremecida, não estamos acostumados com isso [vandalismo e cultura de ódio]. A estátua é um dos pontos mais visitados de Pará de Minas”, lembra José Roberto Pereira, diretor da Secretaria de Cultura municipal e um dos pesquisadores da vida do artista, enredo do Salgueiro no Carnaval 2020.
A estátua de bronze e é obra do artista Alexandre Pinto, conhecido como Xandinho. Ela fica no Parque Bariri, numa área que, posteriormente, passou a ser chamada Praça Benjamim de Oliveira. Foi inaugurada em 22 de março de 2013, e até aquela madrugada de domingo, só tinha sido alvo da curiosidade de turistas e carinho dos moradores. “As pessoas gostam de tirar fotos e até abraçar o Benjamin”, conta José Roberto.
Pará de Minas tem cerca de 90 mil habitantes e não está acostumada a manifestações do tipo, como o vandalismo racista com a estátua de Benjamin. A notícia correu, e a imprensa de toda a região cercou a obra para cobrir os desdobramentos do crime, até hoje sem solução.
Já a limpeza da estátua foi feita de um jeito pra lá de prosaico – no mesmo dia da pichação, em cerca de 10 minutos.
“Nós ficamos apavorados”, diz José Roberto. A equipe da prefeitura se dividiu em duas: uma parte foi à delegacia para registrar o boletim de ocorrência; a outra buscava descobrir formas de tirar a tinta da estátua. O diretor já tentava recrutar restauradores nas redondezas, e alguém teve a ideia de perguntar a quem tem notório conhecimento sobre limpeza de monumentos vandalizados: a prefeitura do Rio de Janeiro.
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“A gente queria sabe como eles tinham limpado a estátua do [poeta Carlos] Drummond de Andrade”, explica José Roberto.
Um funcionário da prefeitura de Pará de Minas, responsável por cuidar do parque, ficou com a missão de permanecer ao lado da estátua, para evitar – ou ao menos inibir – novas e improváveis pichações sob a luz do dia.
Entre as idas e vindas, quando Zé Roberto voltou à estátua a encontrou sem o menor rastro de tinta. Seu Santinho, o já aposentado servidor que ficara com a incumbência de vigiar a obra, decidiu por conta própria dar o seu jeito: foi até um posto de combustíveis, pediu para molhar um pano com gasolina e o esfregou até que Benjamin ficasse completamente limpo.
“A gente o questionou, mas ele respondeu [imitando o sotaque mineiro de Seu Santinho]: ‘ah não, mas eu gosto demais dessa estátua aqui, sô'”, lembra o pesquisador.
“No início foi um choque, mas como se trata de um palhaço, acabou tudo em comédia”, recorda, aos risos. “Agora a cidade está animada com a homenagem do Salgueiro”, completa.
Abaixo: as fotos da estátua atualmente
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