A Liesa marcou para o dia 24 de setembro a reunião em que vai decidir se haverá desfile das escolas de samba em 2021. A Riotur, empresa da prefeitura responsável pela folia, vai aguardar a posição da liga das agremiações do Grupo Especial para ela própria se pronunciar. Logo, em tese, só a partir do dia 25 será conhecido o plano da administração do prefeito Marcelo Crivella para o Carnaval pós-Covid.
“É um absurdo, uma postura inaceitável”, critica o vereador Tarcísio Motta (PSOL), presidente da Comissão Especial de Carnaval da Câmara, que comandou uma audiência pública nesta sexta-feira, 18, para discutir alternativas para 2021. Presentes, os representantes da Riotur anunciaram que um caderno de encargos para o patrocínio do Carnaval está sendo preparado, mas não anunciaram propostas concretas.
“[A demora em agir da Riotur] É fruto da falta de vontade política do governo Crivella, de entender a importância do Carnaval para a cidade do Rio de Janeiro. Mais um elemento que mostra que essa prefeitura é inimiga do Carnaval”, declarou Motta ao Setor 1, logo após a audiência.
Três dirigentes de escolas de samba participaram do encontro: o presidente da Vila Isabel, Fernando Fernandes, o vice-presidente de Projetos Especiais da Mangueira, Moacyr Barreto, e o diretor social da Lierj (Série A), Bruno Tetê. A Liesa não participou da reunião.
Motta anunciou duas propostas para o Carnaval 2021: a criação de um grupo de trabalho para a formulação de um plano emergencial, que atende principalmente os trabalhadores da indústria da folia, e o lançamento de um edital de premiação. A ideia é que na próxima reunião da Comissão de Carnaval, prevista para o dia 5 de novembro, todas as ideias estejam na mesa.
Você anunciou na audiência pública desta sexta-feira que vai propor a criação de um grupo de trabalho para a formulação de um plano emergencial para o Carnaval de 2021. Como será?
Terá a presença de ligas de blocos, ligas de escola de samba, Riotur, Secretaria Municipal de Fazenda, Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Cultura e membros da Comissão Especial de Carnaval da Câmara. A ideia é fazer reuniões e apresentar propostas para o Carnaval. Por exemplo, no caso das escolas e samba. A Liesa está propondo não ter desfile? O que vai ser feito no lugar disso? O mesmo para a Intendente Magalhães, acesso, Carnaval de rua. Daí criar um plano emergencial que incorpore essas dimensões, pela memória da festa, para garantir de renda e mitigar o impacto econômico para a cidade.
Já houve contato da Liesa com a comissão?
Nós tivemos uma conversa com a Liesa sobre a Lei Aldir Blanc, mas a liga não nos respondeu sobre o Carnaval de 2021.
Eles deram algum prazo?
A gente esperava que eles estivessem presentes na audiência pública [de sexta, 18], mas avisaram na noite da véspera que não estariam. A gente vai convidar a Liesa para fazer parte do grupo de trabalho, mas já sabemos o posicionamento de algumas escolas, de não fazer desfiles sem que tenha uma vacina.
Você também propôs o lançamento de um edital de premiação para o Carnaval. Como é essa proposta?
Além da questão cultural, a ideia é também injetar dinheiro na cadeia produtiva do Carnaval. O Carnaval tem uma série de expressões culturais associadas a ele: música, dança, figurino… Cada uma dessas linguagens pode ter editais de premiação, com concursos para cada um desses setores, premiando com recursos essas pessoas que trabalham nessa produção. Não gera aglomeração e pode trazer para a cidade algum tipo de ganho, com concursos de samba e de dança. As alegorias poderiam ser espalhadas pela cidade, como uma exposição. Imagine um concurso de casais de mestre-sala e porta-bandeira na Marquês de Sapucaí, que gera a possibilidade de produzir fantasias e gerar emprego e renda. O mesmo para concurso de marchinhas, por exemplo. Tudo com premiações para vários participantes. Pode gerar interesse da iniciativa privada. O Carnaval é um patrimônio da cidade, uma marca valiosa. Empresas podem querer associar seu nome.
Como você avalia a atuação da Riotur em relação ao Carnaval 2021, que decidiu esperar uma posição da Liesa?
É um absurdo, uma postura inaceitável. A Riotur, com a responsabilidade de pensar a política pública para o Carnaval, não pode ficar esperando a Liesa se posicionar. Há determinadas indefinições sobre a pandemia que geram insegurança, mas acho inaceitável que a essa altura do campeonato, sabendo que provavelmente não tenhamos uma imunização da população até o Carnaval, que você não tenha nem o início de um esboço de projeto. É fruto da falta de vontade política do governo Crivella, de entender a importância do Carnaval para a cidade do Rio de Janeiro. Mais um elemento que mostra que essa prefeitura é inimiga do Carnaval. O problema cultural e econômico do Carnaval está evidente em 2020 e é absolutamente previsível para 2021, e temos uma prefeitura que não faz nada para resolver. A prefeitura sempre jogou contra.
Qual é o impacto que você prevê das denúncias envolvendo a atuação do Rafael Alves no Carnaval para a festa, principalmente no aspecto econômico?
Espero que o impacto seja positivo, que os órgãos de controle, o Ministério Público, Tribunal de Contas, Câmara de Vereadores e sociedade civil possam ter mais informações, mais controle, mais transparência, por exemplo, sobre o contrato de cessão do Sambódromo, que envolve a negociações do camarotes. A gente sempre espera que escândalos de corrupção como esse não gerem só a responsabilização do corrupto, mas também mais transparência para o futuro, e a gente vai cobrar isso. A gente já estava tratando dessas questões, com requerimentos de informações, para entender melhor. A gente descobriu que o contrato de cessão do Sambódromo entre a Riotur e a Liesa é uma verdadeira caixa preta. Se usar melhor os recursos, se não tiver propina, vai ter mais dinheiro para garantir o Carnaval.
Crivella zerou a subvenção para as escolas que desfilam na Sapucaí alegando falta de dinheiro. Qual é a sua opinião sobre o repasse de recursos da prefeitura para as escolas de samba?
O financiamento do Carnaval incorpora várias coisas além da subvenção e precisa ser olhado com seriedade. É possível incorporar algum tipo de subvenção se ele estiver em um planejamento amplo. A subvenção tem mais sentido para as escolas menores, nos desfiles com menor retorno mercadológico, como parte de uma política para que essas agremiações sobrevivam, porque elas geram cultura, que é um direito, emprego e renda. É mais provável que as escolas do Grupo Especial possam se sustentar, mas isso não significa que em um momento como esse, de crise, de emergência, elas não precisem ser socorridas pelo poder público, porque elas também são patrimônio cultural e geram emprego e renda. Mas qualquer tipo de financiamento que use dinheiro público tem que prever contrapartidas. Não como às vezes gostavam de colocar nas nossas costas, como se a gente quisesse interferir nos enredos. Não. As contrapartidas podem ser os ensaios técnicos gratuitos, que não acontecem mais. Há várias formas de as escolas darem retorno ao poder público do ponto de vista da cultura e de ajudar a movimentar a economia da cidade, gerando impostos que rendem mais receita para a prefeitura, que pode aplicar esses recursos em outros setores.
O Carnaval é inegável fonte de recursos e desenvolvimento econômico, para várias regiões do estado do Rio de Janeiro. Os dados não mentem, o Carnaval de 2020 adicionou aos cofres públicos fluminense mais de 4 bilhões de reais, dos 8 bilhões em todo o Brasil.
Se tivéssemos investimento, por parte da iniciativa privada, Fundo Setorial do Carnaval ou mesmo Editais Específicos para o Carnaval, ou ainda, política pública, para reverberar estes números, fatalmente eles seriam mais robustos. Com efeito, precisamos muito do Carnaval, como cultura, capacitação, trabalho e renda.
É MUITO TRISTE ESTES POLÍTICOS QUE NÃO PENSAM NA CULTURA.