A Lierj, liga que reúne as escolas de samba da Série A do Rio de Janeiro, reagiu com indignação às declarações do secretário municipal da Casa Civil, Paulo Messina, sobre a redução da subvenção para as escolas representadas pela entidade.
Em entrevista ao jornal O Dia, publicada nesta quarta-feira, 26, Messina afirma que a administração reservou R$ 7 milhões para as escolas da Série A e dos demais grupos de acesso, que desfilam na Estrada Intendente Magalhães, no bairro do Campinho, Zona Norte do Rio. Deste montante, cada escola da Lierj receberia cerca de R$ 250 mil – valor que corresponde à aproximadamente metade do repassado pela prefeitura no último Carnaval.
Em nota, a Lierj afirma que sequer foi avisada sobre a redução e ficou sabendo pela reportagem do jornal carioca.
“A situação provoca ainda mais repulsa pelo fato de a Liga não ter recebido qualquer informação direta e oficial por parte do órgão público, tendo tomado conhecimento apenas através da imprensa”, reclama a Lierj.
A entidade ainda negou ter pedido a redução no valor, como declarou Messina. De acordo com a reportagem, o secretário afirmou que o valor de R$ 250 mil por agremiação fora requisitado pela liga, que teria aceitado receber metade do destinado ao Grupo Especial, de R$ 500 mil por escola.
“Tal quantitativo, se confirmado, será o menor da história da Série A. Em documento entregue ao secretário em outubro, a Lierj reiterou que o dinheiro recebido para o Carnaval de 2018 já foi insuficiente para a produção dos desfiles, uma vez que a verba municipal corresponde a aproximadamente 80% da receita total de cada agremiação. Na ocasião, o valor, 50% menor do que no ano anterior, só foi repassado faltando aproximadamente 10 dias para as apresentações. Sendo assim, foi pedido, no mínimo, o restabelecimento do valor de R$ 8.623.460 recebido em 2015”, afirma a Lierj em comunicado.
“Babá”
Entre os sambistas, uma declaração de Messina causou especial irritação. Questionado sobre as verbas para o Grupo Especial, o secretário afirmou que a prefeitura não pode ser “babá de evento comercial”, e citou o Rock in Rio como exemplo. Para Messina, as escolas da elite devem procurar outras fontes de recursos que não sejam a prefeitura.
“As escolas do Grupo Especial têm que se profissionalizar como qualquer grande evento comercial que vende ingressos, a exemplo do Rock in Rio e outros. A prioridade da prefeitura é usar dinheiro público para saúde e educação”, disse ao O Dia.
Intendente
Procurada pela Setor 1, a Liesb, que agrega as escolas da Intendente Magalhães (grupos B, C e D), diferente da Lierj, recebeu com otimismo a notícia. Em breve contato com o blog, o presidente da liga, Gustavo Barros, comemorou o fato de que, de acordo com as declarações de Messina, o Carnaval promovido pela entidade não sofrerá cortes, recebendo cerca de R$ 3,75 milhões.
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Grupo Especial
As escolas do grupo de elite do Rio seguem aguardando uma reunião com o prefeito Marcelo Crivella para tratar das verbas repassadas pelo administração municipal. Segundo a Riotur, o encontro será marcado por Messina. A Casa Civil foi procurada pelo blog, mas até o fim da tarde desta quarta, 26, não obteve resposta sobre data, local, horário e participantes da reunião.
As agremiações esperavam receber R$ 1 milhão cada, sem contar os R$ 500 mil da Uber, via Lei Rouanet, totalizando R$ 1,5 milhão. Com a desistência da empresa de transporte particular, a prefeitura publicou em Diário Oficial a liberação de apenas R$ 500 mil para cada uma, surpreendendo os dirigentes do samba. Já a gestão Crivella entende que o R$ 1 milhão prometido já incluía os recursos da Uber.
Veja a nota da Lierj na íntegra:
A Lierj recebeu com extrema indignação a notícia divulgada nesta quarta-feira, 26/12, através de veículos de comunicação, dando conta de mais um corte na subvenção atribuída pela Prefeitura para a realização do Carnaval da Série A. A situação provoca ainda mais repulsa pelo fato de a Liga não ter recebido qualquer informação direta e oficial por parte do órgão público, tendo tomado conhecimento apenas através da imprensa.
Além disso, não procede a informação atribuída ao secretário municipal da Casa Civil, Paulo Messina, em entrevista ao jornal O Dia, de que o valor de R$ 250 mil para cada escola atenderia a um pedido do grupo. Tal quantitativo, se confirmado, será o menor da história da Série A. Em documento entregue ao secretário em outubro, a Lierj reiterou que o dinheiro recebido para o Carnaval de 2018 já foi insuficiente para a produção dos desfiles, uma vez que a verba municipal corresponde a aproximadamente 80% da receita total de cada agremiação. Na ocasião, o valor, 50% menor do que no ano anterior, só foi repassado faltando aproximadamente 10 dias para as apresentações. Sendo assim, foi pedido, no mínimo, o restabelecimento do valor de R$ 8.623.460 recebido em 2015.
Como vem sendo amplamente divulgado, não é de hoje que a Série A luta com todas as forças para superar as adversidades que vêm sendo provocadas por ações e decisões do poder público. Além dos sucessivos cortes de verba, que prejudicam diretamente milhares de artistas e trabalhadores humildes que dependem do ofício para colocar comida na mesa das famílias, outros problemas graves assolam aquele que deveria ser visto como um importante elemento de valorização cultural, de inserção social e até mesmo de investimento para o turismo da cidade, uma vez que, segundo estudo do Ministério da Cultura (Minc), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Carnaval do Rio foi responsável pela movimentação de R$ 3 bilhões em 2018. Ainda assim, a cerca de dois meses para os desfiles, as escolas de samba estão sendo despejadas dos barracões, sem qualquer orientação ou apoio municipal para que um novo espaço seja destinado para uma produção digna das fantasias e alegorias.
Vale ressaltar que, desde a criação da Série A da Lierj, em 2012, os desfiles do grupo foram valorizados em função dos trabalhos criativos e surpreendentes criados por talentosos profissionais dos mais variados setores, fazendo com que os desfiles de sexta-feira e de sábado de Carnaval, no Sambódromo, fossem aguardados com ansiedade por cariocas e turistas. Com ingressos sendo sempre vendidos a preços populares, cidadãos das mais variadas classes sociais passaram a poder ter um contato maior com o samba e com a cultura do Rio de Janeiro.
A Lierj reitera que vem apoiando incondicionalmente as agremiações filiadas e que segue buscando alternativas para minimizar os consecutivos impactos que vêm sendo causados pelo poder público nos desfiles da Série A.
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