Em 2019, o Acadêmicos do Sossego vai de enredo religioso – mas não sem crítica e com uma boa dose de polêmica.
A escola anunciou nesta sexta-feira que o desfile do próximo Carnaval na Série A será sobre intolerância religiosa, batizado como “Não se meta com minha fé, acredito em quem quiser”.
“Nestes tempos sombrios, o Acadêmicos do Sossego levará para a avenida sua mensagem contra a intolerância religiosa e um apelo para que nosso país volte a ser uma nação acolhedora de todas as crenças e para que o mundo jamais volte a matar em nome de Deus”, defende a agremiação em comunicado publicado no Facebook. Um dos alvos, ainda que não declarado, poderia ser o próprio prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que cortou 50% das verbas do município para as escolas de samba em 2017.
Veja abaixo o post do Sossego:
“Patrono dos traficantes”
O protagonista do enredo é uma figura no mínimo controversa. Jesus Malverde, retratado no logotipo oficial divulgado nesta sexta, é venerado como santo em regiões do México, ainda que não seja tratado como tal pelo Vaticano. Malverde, cuja existência não há comprovação histórica, é conhecido como um Robin Hood mexicano, que roubava dos ricos e dava para os pobres, mas também é considerado o padroeiro dos traficantes – um “narcossanto”.
“Sob as bençãos de Jesus Malverde, cujos fiéis são tão injustamente criticados por manterem sua devoção, a escola mostrará que uma das grandes belezas da humanidade está na diversidade das suas religiões, nas diferentes formas de se comunicar com o divino, e também de se calar e nele não acreditar”, promete a escola.
Malverde, codinome de um suposto Jesús Juárez Maço, pobre trabalhador mineiro, teria se tornado inimigo do estado ao se levantar contra a tirania do general Francisco Cañedo, governador de Sinaloa. Malverde, contam, escapou seguidas vezes de Cañedo, até ser capturado e morto por enforcamento em 1909. Uma das versões é de que o herói dos pobres, após ser baleado, pediu para que companheiros o levassem morto às autoridades policiais, e que o dinheiro da recompensa fosse distribuído aos mais necessitados. Seu corpo, dizem, foi deixado ao relento até apodrecer.
Em seguida, conta a lenda, começaram a circular notícias de milagres atribuídos à folclórica entidade. Alguns deles com narrativa cinematográfica, como a que ajuda ladrões a encontrar mulas que haviam fugido do grupo levando o material roubado.
Todo dia 3 de maio, suposta data de sua morte, Malverde é lembrado por seus devotos mexicanos – principalmente os pobres – com muita festa, sobretudo nas proximidades da capela dedicada a ele em Culiacán, em Sinaloa.
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Na série Breaking Bad, Malverde é lembrado em pelo menos uma cena, em que o personagem do policial Hank questiona um colega de DEA (Drug Enforcement Administration, o departamento federal de combate ao narcotráfico dos EUA) a razão de ter uma imagem do “patrono dos traficantes” sobre a mesa. ”
“Se caçassemos nazistas seria como ter uma suástica, não?”, questiona Hank.
“Sun Tzu (…), ‘A Arte da Guerra’: conheça seu inimigo e conheça a si mesmo, e em 100 batalhas não conhecerás derrota”, responde o policial inquirido.
Veja a cena abaixo:
Acadêmicos do Sossego, de onde é essa Escola de Samba?
Do Largo da Batalha em Niterói. Desfila no segundo grupo do Rio de Janeiro desde o carnaval 2017.