Ao dar a largada para os desfiles de 2018, em fins do ano passado, a Liga SP anunciou um slogan forte, que serve também como uma meta ambiciosa: “Rumo ao maior Carnaval do Brasil”. O lema foi recebido com certo alarde no meio do samba. Há quem duvide. No Rio, foi entendido até como uma provocação por algumas pessoas nas redes sociais.
“Algo como ‘onde eles pensam que vão?'”, brinca Eduardo Santos, presidente da Acadêmicos da Tatuapé, atual campeã do Carnaval de São Paulo, comentando o clima em alguns grupos de Facebook.
Santos não vê rivalidade entre Rio e São Paulo, mas crê que o objetivo embutido no slogan é “perfeitamente possível” de se alcançado. “A Liga tem feito um bom trabalho e acho que é justo divulgar um slogan como esse, como um objetivo”, completa o dirigente, um assumido torcedor da União da Ilha, escola pela qual se apaixonou vendo os desfiles na década de 70 pela televisão.
“É normal que um slogan assim tenha esse tipo de interpretação (pela rivalidade). É pretensioso, sem dúvida, mas é possível, sem que a gente absorva isso como uma rivalidade. Essa comparação entre os desfiles do Rio e São Paulo não é algo presente na nossa rotina. Não discutimos isso. Na Liga, isso nunca foi assunto para nós, de coração. Isso é muito mais de gente de fora do Carnaval. Temos um respeito muito grande pelas escolas do Rio. Adoramos trocar essa experiência, temos um intercâmbio profissional. Somos muito bem recebidos lá, e eles, aqui. Temos amizade com pessoas de lá”, diz o presidente ao Setor 1.
Criar o maior Carnaval do Brasil passa por ter os maiores desfiles, consequentemente com escolas mais poderosas. Mas Santos não vê o desafio lançado pela Liga como uma missão dada às agremiações.
“Na verdade não é uma missão que a Liga nos passou. Eu não considero assim. Nos últimos anos tivemos avanços inegáveis, não só em contratos e verbas, mas acho que tudo que vem sendo conseguido acaba credenciando o Carnaval de São Paulo para uma meta como essa. O objetivo de cada escola é fazer um Carnaval melhor a cada ano, mais bonito, exuberante e que atraia mais público”, afirma Santos.
Tesoura
A meta lançada pela Liga também envolveria dinheiro. No Rio, o prefeito Marcelo Crivella cortou em 50% as verbas do município para as escolas de samba. O comandante da Tatuapé não teme, a princípio, que a “tesourada” vire uma tendência, ainda que tenha sido cogitada, e chegue a São Paulo. No entanto, admite que, na discussão sobre orçamento da cidade, não há cabe debate sobre prioridades.
“Seja qual fora a previsão orçamentária do município, são números que a gente jamais vai poder discutir com tanta clareza. Mas, mesmo assim, nós nunca poderemos concorrer com outras prioridades, por melhor que o município esteja financeiramente, por maior que seja a receita tributária. Nós nunca vamos concorrer com saúde, educação e segurança. Seremos sempre preteridos. E a opinião pública tende sempre a achar que quem corta verba de Carnaval está certo. É um apelo muito claro. Não tem como a gente ir para um debate público sobre onde o governo tem que gastar o dinheiro, se é construindo um hospital ou investindo no Carnaval”, ressalta.
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Na ponta do lápis, a subvenção paulistana para 2018 ficou maior que a carioca. Em São Paulo, a gestão de João Doria lançou para cada escola do Grupo Especial o valor de R$ 1.181.546,88, pouco maior que o de Crivella, de R$ 1 milhão, não contabilizados eventuais patrocínios da iniciativa privada captados pela administração municipal.
Santos, porém, pede mais clareza na demonstração sobre a contribuição para a máquina econômica da cidade.
“O que o Carnaval alavanca na cidade, a ponto de merecer esse investimento do governo? Quantas pessoas vem a São Paulo ou vão para o Rio de Janeiro, se hospedam na rede hoteleira, frequentam os restaurantes, consomem em lojas e quanto isso gera de receita para o município? Há um hotel dentro do Anhembi, que serve até de camarim, e fatura alto. E desse faturamento, há recolhimento de impostos. A gente movimenta uma máquina turística que até poderia ser melhor aproveitada, funcionando o ano inteiro, não só no Carnaval. O Sambódromo pode ser melhor aproveitado. Por que as escolas só usam uma vez no ano?”, discursa Santos.
Independência
Para não depender de dinheiro público, o dirigente vislumbra a possibilidade de contar mais com recursos próprios e de empresas para custear os desfiles, e faz uma reflexão sobre o papel de cada um na engenharia financeira da folia.
“O ideal seria não precisar de verba pública. É um trabalho que precisa ser feito, com mais seriedade, mais competência e com mais parceria. A iniciativa privada, às vezes, também se demonstra muito distante desse tipo de manifestação. Não sei por que, o desfile das escolas de samba não tem a mesma receptividade de outras manifestações populares. Para se ter uma ideia, uma escola de samba que recebe em sua quadra, no período de verão, uma quantidade absurdamente grande de pessoas, não é atraente para uma indústria como a da cerveja, por exemplo. É algo a se pensar. Uma escola como a minha, campeã do Carnaval de São Paulo, compra cerveja no supermercado. Alguma coisa está errada nessa história. Não sei se a culpa é nossa, deles ou dos dois. Acredito até que seja dos dois”, finaliza.
Uma cópia será sempre uma cópia…
Nunca vi uma cópia ter mais valor artístico ou financeiro que o ORIGINAL… PÉ no chão SP.porque ES. Está vindo calado e chegando..esquece o RJ que a distância está muito além em tudo….