Uma montagem de fotos relacionando o cancelamento dos desfiles das escolas de samba de 2021 a uma encenação da Gaviões da Fiel, que mostra Jesus Cristo sendo arrastado pelo diabo, foi compartilhada no Twitter pelo ministro da Turismo, Gilson Machado Neto, neste sábado, 13.
A junção de fotos tem duas imagens: uma de um trecho da apresentação da comissão de frente da escola corintiana, em que o diabo arrasta Jesus pelo chão, com a legenda “2020”; e outra do Sambódromo do Anhembi vazio, com a legenda “2021”, relacionando o adiamento dos desfiles de 2021, causado pela pandemia de Covid-19, a um suposto desrespeito a Jesus ou “castigo divino”.
Na verdade, a primeira imagem é da apresentação da comissão de frente da Gaviões de 2019, cujo enredo falava sobre o tabaco, e não de 2020. Além disso, ao fim da encenação, Jesus vence o diabo, e não o contrário, como insinua a montagem (abaixo).
Em 2020 houve desfiles normalmente em várias cidades do Brasil, inclusive Rio e São Paulo. A Viradouro foi a campeã na Marquês de Sapucaí; o Águia de Ouro, no Anhembi. A Gaviões desfilou com o enredo sobre o amor.
Confrontado por usuários da rede social da postagem com informação falsa, Neto respondeu afirmando não se opor à festa. “Não sou contra o carnaval, sou músico. Sou contra tripudiar e blasfemar o nosso Pai!”, disse o ministro, que ocupa a pasta responsável por promover o turismo do Brasil, que tem o Carnaval como evento que mais atrai turistas.
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A comissão de frente da Gaviões em 2019 encenava a história de Santo Antão, que, segundo a liturgia católica, deparou-se com uma serpente debilitada durante peregrinação pelo deserto. Antão acolheu o animal, mas foi traído e picado pelo réptil. O peregrino arrancou o veneno com a boca e cuspiu no chão, onde nasceu um ramo de tabaco. A comissão da escola narrava justamente essa lenda, em que Santo Antão era representado por uma escultura que cuspia fumaça quando se livrava do veneno. A mesma apresentação mostrava um anjo derrotando o diabo.
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Em entrevista à revista Veja em março de 2019, o coreógrafo Edgar Júnior explicou que, no fim da encenação (assista aqui), o “bem vence o mal” – ou seja, Jesus supera o diabo, e Antão recebe a lição de que deve manter a fé, mesmo sendo testado.
“O personagem do diabo está ali para testar a fé do Santo Antão. O enredo mostra que o diabo perde a batalha para os anjos do bem diversas vezes. Depois disso, ele coordena com as forças do mal e batalha com Jesus, que realmente sofre. Mas, no final, os anjos protegem Jesus e ele aparece forte, abençoa a plateia, os anjos do bem e do mal e até o diabo, porque ele é uma pessoa de luz. Acaba a guerra e ele fala com Santo Antão como a dizer: ‘Não perca a sua fé, sempre vão testá-la, mas estou aqui contigo’. O bem vence no final”, disse Edgar Júnior à Veja.
Na época do desfile, a comissão de frente da Gaviões motivou reações de entidades e grupos cristãos. A Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados repudiou a encenação. O advogado Carlos Alexandre Klomfahs acionou a Gaviões na Justiça, alegando que a agremiação havia desrespeitado “o símbolo e a religião cristã”, e pedia uma retratação da escola. O juiz Felipe Albertini Nani Viaro, da 26ª Vara Cível de São Paulo, extinguiu a ação.
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